Ex-aluna da Escola de Artes e Ofícios leva a paixão pelo bordado a milhares de pessoas

Ex-aluna da Escola de Artes e Ofícios leva a paixão pelo bordado a milhares de pessoas

O primeiro contato de Juliana Farias com a linha e a agulha foi ainda na infância, escondida dos pais, quando brincava de “tecer” roupas para suas bonecas. Mal sabia que aquela pequena travessura da infância se revelaria uma vocação anos depois, quando, na adolescência, época de descobertas, decidiu cursar a faculdade de Design de Moda. Oriunda de escola pública, conseguiu concluir o curso em uma universidade particular, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni).

Mesmo formada, seu caminho profissional ainda era um tecido a ser transformado. “A moda é um grande leque de opções (modelagem, desenho, costura…). Eu estava perdida e não sabia qual rumo tomar”, revela. Foi quando, em 2014, descobriu a existência do curso de costura e bordado da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, equipamento público da Secretaria da Cultura do Ceará, gerido pelo Instituto Dragão do Mar. “Foi algo incrível! Me apaixonei no primeiro ponto. Puxou a memória afetiva da infância do brincar de costurar. Decidi ali na Escola o que queria fazer o resto da minha vida”, relembra. No curso, Juliana foi aluna de duas grandes referências da arte de bordar: Lúcia Ferreira e Martha Dumont, uma das representantes da família bordadeira que criou há cerca de 40 anos o grupo Matizes Dumont, de Minas Gerais. Juliana começava a entrelaçar sua sensibilidade e paixão da infância com a trajetória profissional de bordadeira. “A Escola me deu a oportunidade de vislumbrar o direcionamento profissional que eu precisava, me dando todo aparato necessário. O ofício do bordado era a peça-chave que faltava para o meu caminhar no mercado de trabalho. Tudo que venho conquistando até hoje, agradeço à Escola”, relata.

A dedicação e o talento amoroso pela arte milenar a fez ser convidada três anos depois para ser monitora do mesmo curso na Escola e, posteriormente, professora do ateliê da Lúcia Ferreira. Descobriu um novo prazer: ensinar a arte que tanto amava a outras pessoas. “A sensação gostosa que o ato de bordar me proporciona não podia ser só minha. Eu tinha que repassar o que aprendi e aprendo para os outros”, ressalta.

Mais do que unir cores e formas através do manejo sensível da linha e da agulha, o bordado lhe trouxe outras possibilidades de encontros. Adepta a religiões de matriz africana desde a infância, por morar com os pais em um terreiro de Umbanda, ingressou em 2017 no Coletivo Bordando Resistência, formado por mulheres quilombolas de Horizonte/CE, onde ensina as técnicas do ofício tradicional. “Percebi que o bordado, enquanto expressão artística, poderia ser uma forma de afirmação política”, afirma. Em 2019, o grupo lançou na Assembleia Legislativa do Ceará sua primeira exposição contando história da comunidade local através de quadros bordados.

Juliana participou de várias outras mostras e exposições e teve seu trabalho exposto em desfiles de modas. O reconhecimento e o prazer de ensinar começou a romper fronteiras a partir do momento em que ela criou, em 2017, o canal Transbordando, na plataforma Youtube. O intuito inicial dos vídeos era disponibilizar para seus alunos e alunas algumas técnicas ensinadas na sala de aula mas, com a pandemia, Juliana vislumbrou a possibilidade de ir além. O canal tinha 8 mil seguidores no início da pandemia. Ela, então, estudou a plataforma e as ferramentas de engajamento e hoje o Transbordando tem mais de 60 mil seguidores. “É difícil encontrar curso de bordado gratuito. E os vídeos que produzo são acessíveis a qualquer um queira se interessar pelo bordado”, explica.

Mais do que ensinar a técnica, Juliana se apresenta como uma voz importante na promoção e valorização de um ofício tradicional em nosso Estado: “bordado não é somente uma técnica ou uma terapia, reduzido a temas florais. Hoje está bem em alta trabalhar o bordado como expressão artística, inclusive política”.

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