O gosto pelo desenho vem desde criança, quando arriscava os primeiros rabiscos coloridos no papel, e cresceu quando, no último ano do ensino médio, teve aulas sobre História da Arte. O mundo que começava a descobrir, justamente na fase da vida marcada por possibilidades, em que é preciso escolher caminhos, a levou para o curso de Licenciatura em Artes Visuais no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE).
Como arte é essencialmente expressão, sentimento, inquietude e liberdade, Rafaela Teixeira (22) sentia necessidade de encontrar sua própria linguagem. Foi quando, em 2018, conheceu a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (EAOTPS), equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult/CE) gerido pelo Instituto Dragão do Mar, e se inscreveu no curso de gravura. Lá, além do papel, aprendeu a usar outros suportes para gravar seus desenhos. Metal, madeira e pedra também passaram receber as linhas e texturas criativas da Rafaela. Isso porque a Escola, enquanto equipamento que há 20 anos promove formação na área patrimonial, oferta em sua grade pedagógica cursos que buscam difundir e manter vivos os ofícios tradicionais, como a Xilogravura, a Gravura em metal e a Litografia, processo gráfico inventado no século XVIII que consiste na impressão a partir de imagem desenhada sobre uma pedra de calcário especial.
“Para mim, a oportunidade de fazer o curso na Escola Thomaz Pompeu despertou ainda mais meu interesse pela prática do desenho, da gravura e das impressões, sendo um ponto focal para eu conhecer outras instituições culturais e atuar de forma ativa para buscar uma formação em artes. Depois passei a frequentar mais o Porto Iracema das Artes, Theatro José de Alencar e outras instituições. A Escola foi meu ponto inicial e propulsor para expandir o meu desejo pela produção e formação em arte”, revela Rafaela.
Em pouco tempo, Rafaela já conseguiu participar de mostras e premiações artísticas, como uma bienal internacional de gravura na Polônia (XVII International Contest of Small Graphics & Exlibris Ostrów Wielkopolski), em 2019. Também conquistou o 1° lugar no V Salão de Gravura, promovido pela EAOTPS em 2020.
A formação no campo da gravura a fez estudar novamente para o vestibular e, no ano passado (2021), ingressar no curso de Design na Universidade Federal do Ceará (UFC). “Foi uma decisão também influenciada pelo que pude vivenciar e aprender na Escola Thomaz Pompeu, porque pude me encantar pelos processos de impressão e fabricação de papéis. No design gráfico, a impressão tem uma escala maior e industrial, mas ter tido os saberes do curso de gravura junto a minha atual formação em andamento, me faz impulsionar uma busca do manual com a tecnologia, o que possibilita uma comunicação entre a gravura e o design”, ressalta.
Hoje Rafaela se define como uma artista contemporânea, que busca outras linguagens e aborda temas como gênero, sexualidade e corpo: “A arte surge pra mim como um campo de questionamento, de criar outros significados para o que tá posto no mundo”. Para Gerson Ipirajá, artista visual e instrutor da Escola, Rafaela está conquistando seu espaço e tem uma história admirável, fazendo um paralelo do trabalho político com a arte.
Sua trajetória está no início ainda, mas mesmo assim já pode ser considerada uma conquista. Moradora do bairro Curió desde que nasceu, em Fortaleza/CE, sabe bem que o acesso ao campo artístico nem sempre é fácil para jovens da periferia. “Eu acredito que o acesso à formação artística é importante para todos e todas, mas, infelizmente, muito do investimento cultural é de difícil alcance. Falo por mim, porque dependo de transporte público. É gasto com dinheiro de passagem e ainda a distância e o tempo, mas essa é uma questão que a Escola Thomaz Pompeu pensa com uma ajuda de custos com transporte para possibilitar aos alunos fazerem o curso”, recorda.
Mesmo tendo concluído o curso de gravura há dois anos, sempre que pode Rafaela visita a Escola para desenvolver sua arte. Isso porque, além dos cursos, a EAOTPS disponibiliza a estrutura do Ateliê da Gravura como um espaço democrático de encontro, troca de experiências e produção de artistas gravuristas. O Ateliê foi concebido com a ajuda do artista visual Eduardo Eloy e conta ao todo com seis prensas, entre elas a única prensa litográfica do Ceará (um modelo fabricado na Alemanha há mais de 120 anos). O uso é agendado e acompanhado por instrutores do equipamento. “A ideia é oferecer uma condição para que o(a) aluno(a) possa continuar se encontrando e praticando os conhecimentos aprendidos nas aulas, produzindo sua arte para que as linguagens tradicionais, tão importantes, sigam vivas”, ressalta Maninha Morais, gestora executiva da EAOTPS.
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