“Sou prova viva de que o jovem só precisa de oportunidades para se desenvolver”. Foi em 2008, quando tinha 19 anos, que surgiu uma oportunidade para Diego Santana (Diego Sann). Naquele ano, conheceu a Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (EAOTPS) onde se inscreveu em um curso de Xilogravura e Gravura em Metal. Começava ali a consolidar sua vocação para o desenho e apreço pelas artes visuais. Hoje com 30 anos, Diego acumula 11 anos de atividades artísticas com quase 40 participações em exposições e vários prêmios. Uma trajetória que mostra como a formação artística pode revelar talentos e ajudar a construir caminhos transformadores. “A Escola foi o primeiro espaço a me proporcionar formação em arte. Posteriormente participei de outros cursos, estágios e exposições e busquei formação superior. Atualmente sou licenciado em Artes Visuais e atuo como artista visual. Participei de diversas exposições, bienais nacionais e internacionais, sendo agraciado com premiações”, ressalta.
Diego é somente um dos mais de cinco mil alunos (a maioria jovens em situação de vulnerabilidade social) que passaram pela Escola ao longo de 13 anos, completados neste mês de maio, após sua refundação, em 2006, quando o equipamento passou a ser gerido pelo Instituto Dragão do Mar. Alguns anos antes, de 2002 a 2006, o belíssimo palacete da família do engenheiro e escritor Thomaz Pompeu Sobrinho, localizado no bairro Jacarecanga, abrigou um Centro de Restauro, após ter sido desapropriado pelo Governo do Estado. Foi o embrião da EAOTPS. Salvo de uma iminente demolição, o palacete em estilo Art Nouveu (datado da década de 1920) passou a sediar salas de aula, biblioteca, ilha digital, ateliês artísticos, sonhos e talentos.
De início, a Escola desenvolvia atividades de capacitação em conservação e restauração do patrimônio cultural do Ceará, tornando-se uma referência em educação patrimonial voltada para a juventude. “A EAOTPS foi meu primeiro contato com educação patrimonial, pois, mesmo em todo meu período do ensino regular ao superior não me tinha sido apresentado essa necessidade da preservação da memória de uma sociedade”, ressalta Nayana Karlla, ex-aluna, hoje designer.
Ao longo de 13 anos, os alunos formados pela Escola participaram da restauração de importantes edificações históricas de Fortaleza, como o próprio Palacete Thomaz Pompeu Sobrinho, o Arquivo Público do Ceará, a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, o Cineteatro São Luiz, o Museu do Ceará, o Sobrado Dr. José Lourenço e o Teatro São José. Também pelas mãos dos alunos foram recuperadas obras de expoentes das artes no Ceará, como as telas e esculturas do Museu do Ceará, Museu São José do Ribamar e recentemente o acervo da artista plástica Sinhá D’Amora (1906-2002).
Mas patrimônio não é apenas o que se toca. A memória, os saberes e fazeres passaram também a ser fonte de estudos nas salas da EAOTPS. Paulo Linhares, Presidente do Instituto Dragão do Mar e um dos responsáveis pela criação da EAOTPS quando Secretário de Cultura do Estado, relembra a preocupação em ampliar a atuação do equipamento: “A Escola nasceu de uma articulação do Governo do Estado, na época com o Governo da Espanha, que incentiva a criação de escolas de artes e ofícios. Quando a gente começou essa relação com a Espanha, eles tinham um padrão muito vinculado à questão do restauro, do patrimônio. E a gente discutiu muito para ampliar a atuação e procurar trabalhar para ter uma melhor performance nas áreas de ofícios, onde o Ceará tem uma grande tradição”.
A EAOTPS expandiu seu programa de formação e hoje, além de trabalhar na seara da conservação e restauro, promove também cursos e atividades de formação em ofícios tradicionais ligados à arte e ao artesanato, como gravura (xilo, litografia, gravura encavo e serigrafia), bordado, couro, cerâmica, marcenaria, dentre outros. Ao final de cada curso, o aluno está apto a criar e comercializar produtos, nas diversas tipologias. “A ideia era ser bom naquilo que o Ceará é muito bom. É preciso trabalhar não o artesanato por repetição, mas o artesanato criativo, o ofício como invenção que é altamente valorizado…. Bolsa, madeira, couro, moda, decoração que não tem escala industrial e que tem assinatura de um mestre. Esse é o projeto da Escola”, ressalta Linhares.
Para isso, além das aulas de formação, a Escola tem sido também local de encontros, envolvendo artistas veteranos e novos talentos das artes. Em 2018, por exemplo, foi realizado o I Seminário da Gravura, que reuniu artistas, iniciantes e renomados, das artes gráficas do Ceará e de fora do Estado num debate sobre os desafios da valorização da gravura. Além do Seminário, a Escola se abre para a cidade de Fortaleza com a realização de feiras livres de artesanato (os Fuxicos da Escola), dos Circuitos das Artes e dos Salões da Gravura, quando os artistas formados têm a chance de expor e comercializar seus trabalhos à população.
“Considero a Escola hoje um local atuante, de conhecimento, inclusão e valorização da nossa identidade. Além de seguir colocando em prática seu programa de formação, realizando atividades pedagógicas que contribuem para o despertar da consciência artística e patrimonial e para inserção econômica dos alunos, a Escola cada vez mais se consolida como uma importante instituição de mobilização, encontro, troca e debates”, destaca Marley Uchôa, coordenadora da EAOTPS.
Treze anos abrigam muitas histórias, sonhos e talentos. E como toda memória não se constrói apenas com o passado, mas também com o que está por vir, que venham muitos mais anos de promoção e valorização do patrimônio histórico e dos bens, saberes e fazeres culturais do nosso Estado.