A mão rascunha a lápis um desenho. No lugar do papel, a superfície polida de um pesado e espesso bloco de pedra. A cena, que pode causar estranheza aos desavisados, é corriqueira no Ateliê da Gravura da Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho (EAOTPS). Rabiscar sobre pedras é uma das etapas da técnica da litografia, processo gráfico inventado no século XVIII que consiste na impressão a partir de imagem desenhada sobre uma superfície de calcário especial. Além da litografia, é comum ver no Ateliê artistas desenvolvendo também outras técnicas gráficas tradicionais ensinadas na Escola, como xilogravura, serigrafia e gravura encavo (em metal).
O Ateliê, que funciona nos fundos da Escola, próximo aos jardins da EAOTPS, é utilizado para a realização dos cursos de formação na área da Gravura. Quando não há aulas, vira ponto de encontro de artistas, possibilitando a convivência e o desenvolvimento artístico de gravuristas, jovens ou veteranos. “O Ateliê é um espaço aberto para que os alunos da Escola possam seguir aplicando os conhecimentos aprendidos nas aulas e, juntamente com artistas veteranos, trocar experiências. Até porque, para muitos, é difícil ter um ateliê próprio, com todos os equipamentos necessários”, ressalta Marley Uchôa, coordenadora da EAOTPS.
O fato de abrigar a única prensa litográfica do Estado faz do Ateliê um espaço importante para a difusão, formação e preservação da técnica tradicional secular, usada antigamente pela indústria gráfica para impressão de cartazes, rótulos e outras peças gráficas publicitárias. “As pedras litográficas são difíceis de achar e a prensa foi trazida de fora, com ajuda fundamental do artista cearense Eduardo Eloy”, relembra Marley.
Para o artista e professor Gerson Ipirajá, “com a abertura que a Escola vem dando para os artistas utilizarem o Ateliê, a arte da gravura tem ganhado importante fôlego. Tem havido uma grande frequência no espaço, tanto de artistas iniciantes, como de nomes consagrados, num bom convívio de gerações”, destaca. “O ateliê amplia horizontes, porque faz com que a gente conheça várias linguagens (da gravura)”, reforça Gustavo Diógenes, artista iniciante e ex-aluno da Escola.
Daniel Chastinet, outro nome que integra a nova geração de gravuristas, tomou conhecimento do Ateliê e da técnica da litografia durante o I Seminário da Gravura, realizado na Escola em novembro do ano passado com o objetivo de reunir artistas, pesquisadores e estudantes para debater o fortalecimento das artes visuais no Ceará. O interesse em se desenvolver como artista fez ele passar a frequentar o espaço. “As técnicas antigas permitem você criar novas sensações”. Para ele, manter vivos esses métodos é uma questão de memória: “talvez a litografia não sirva mais para imprimir rótulos, como antigamente, mas ela serve para produzir obras, para se expressar”. Ipirajá reforça, lembrando da necessidade de se manter fortalecida a atuação da EAOTPS em prol da gravura cearense. “É importante que o trabalho desenvolvido pela Escola seja uma política de Estado permanente”.
Para utilizar o Ateliê da Gravura, basta entrar em contato com a Escola e verificar a disponibilidade de horário. Para os iniciantes, é importante que o uso dos materiais seja acompanhado por algum professor ou artista que esteja no local. Os contatos da Escola são: eao@eao.org.br / 85.3238-1244